Sexta-feira (31) foi o Dia Mundial Sem Tabaco e os números deveriam servir de alerta. As estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam para 17.210 casos novos de câncer de pulmão em homens e 10.110 em mulheres, em 2012-2013.
“Se eliminarmos o cigarro, terminaremos com 50% dos tipos de câncer que existem”, diz o oncologista Roberto Gil, membro do Serviço de Oncologia Clínica do Inca. Roberto Gil acompanha a luta contra o fumo de perto. Para ele, que também é diretor da Oncoclínica no Rio de Janeiro, as mudanças nas leis para restringir o fumo no Brasil foram fundamentais.
Além do câncer de pulmão, o fumo também está associado ao surgimento de outros tumores. “Os problemas no pulmão são os de mais fácil associação, mas há outros riscos”, diz o oncologista Frederico Nunes. Ele conta, por exemplo, que as substâncias do cigarro, a combustão e a fumaça causam um processo irritativo no sistema urinário e as alterações podem desencadear o câncer de bexiga.
A oncologista Sabrina Chagas, especializada na saúde da mama, aposta na mudança de hábitos como a melhor prevenção: “O abuso do fumo e do álcool deve ser evitado porque os males que causam são amplamente conhecidos. O papel da rede de saúde é ajudar o fumante a largar o vício antes que as doenças se instalem.”
A população está mais informada contra os malefícios do tabaco. Se em 1989 o percentual de fumantes era de 32%, em 2008 passou para 17%, e caiu para 14,8% no ano passado, de acordo com a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), em pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde. Hoje, o Brasil tem maior contingente de ex-fumantes do que de fumantes, segundo a coordenadora do Centro de Tratamento de Tabagismo do Inca, Cristina Cantarino.
Ela ressalta que o vício no cigarro é uma doença associada à dependência química, ligada à nicotina, e sujeita a recaídas: “A vontade de fumar diminui no tabagista a partir do momento em que ele fica mais seguro, ganhando instrumentos para se proteger do que chamamos de gatilhos, quando, por exemplo, associa a vontade de fumar à imagem do colega que passa indo para o fumódromo ou quando vê o bar onde comprava cigarros.”
Para o oncogeneticista Jose Claudio Casali, também da Oncoclínica uma vida saudável, com alimentação equilibrada, exercícios físicos e livre de vícios, pode mudar o futuro. “O que está à nossa volta pode influenciar a genética. Algumas alterações químicas que fazemos no nosso DNA acontecem por fatores externos. Enfim, temos interruptores que podem ser modificados antes de ligados”, compara.